12 de julho de 2011

Inquieto, ele entra no quarto. Corre, vasculha, procura. Tenta, em vão, se lembrar da última vez que a tinha visto e, de repente, se sente um idiota em fazer toda aquela bagunça. Afinal, o que estava procurando mesmo? Se jogou na cama e deixou aquela onda de pensamentos se esvaziar com a música que tocava ao fundo. Nunca tinha reparado, mas sabia todas as letras do velho disco de jazz de seu pai, mesmo não tendo se esforçado, uma vez sequer, em decorar as palavras.

Era uma foto antiga que procurava. Foi bom aquele dia. Ele e sua namorada haviam passado a tarde no parque, ele tirava fotos dela enquanto planejavam a próxima viagem. Foi ali, naquele momento, enquanto clicava a foto, que percebeu que o que tinham não ia durar. No fundo, o jazz continuava a tocar, bem baixo, enquanto ele se perguntava o que havia acontecido com a antiga paixão. Afinal, se passaram anos desde a última vez que se falaram. "E se eu ligasse pra ela?". Engraçado. Ele ainda se perguntava isso de tempos em tempos.

Sentia que lhe faltava inspiração para fazer tudo aquilo que queria. Sabia que ela viria, uma hora ou outra, mas não saberia dizer, ao certo, quando. Afinal, assim funcionam as inspirações, não é mesmo? Imprevisíveis, espontâneas, intensas e, no caso dele, acreditava, mais do que para os outros, fulgaz. Uma descrição perfeita da mulher perfeita.

Foi quando a viu entrar no quarto, bem devagar, e deitar na cama com ele. Sabia que era um sonho, mas decidiu que resolveria aquela história ali mesmo.

- Por que você me deixou, afinal?
- Oras, você sabe o porquê...
- Achava que sabia. Agora não sei mais. Como estão seus pais?
- Você sabe, sim...
- Não vai me dizer que era por conta daquele canalha. Aliás, como vai aquele canalha?
- Não foi por conta dele. Não foi por conta de ninguém. Foi o seu jeito de me olhar que mudou. Perdeu o foco....
- Você era tudo pra mim...
- E não era nada! Não vê que, antes de me perder, você se perdeu? Até hoje, continua andando sem rumo... Você mudou... e me mudou...

E ela se inclinou e lhe deu um beijo. E com o beijo, vieram todas as lembranças, a imagem daquela casa na praia, os sons familiares da estação de trem, onde se conheceram. E onde a viu pela última vez.

E ele acordou. Se levantou, lavou o rosto e se olhou no espelho. "Que jeito de olhar?". Soube ali que essa resposta demoraria a chegar. Mas sabia também que as palavras dela, as do sonho, ecoariam na sua mente por muito tempo ainda. Resolveu voltar para o quarto, junto às várias caixas reviradas. "Hora de colocar as coisas em ordem".